Direto do Vaticano, Dom Raymundo Damasceno comenta a trajetória do Papa Francisco e a expectativa para o novo Conclave

Diretamente do Vaticano, em meio aos ritos de despedida do Papa Francisco, que faleceu recentemente após um pontificado marcante, e às vésperas do Conclave que definirá seu sucessor, o jornalista Gilmar Serafim promoveu uma entrevista exclusiva com Dom Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo Emérito de Aparecida. O cardeal, que acompanha de perto os últimos acontecimentos, falou com exclusividade sobre sua convivência com Francisco, o processo que envolve a escolha do novo pontífice e as expectativas da Igreja Católica para o futuro.

Natural de Capela Nova, Minas Gerais, Dom Raymundo relembrou os primeiros encontros com o então Arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio. “Conheci Bergoglio antes mesmo de ele se tornar Papa. Sempre foi um homem simples, reservado, mas com uma presença muito marcante. Ele vivia de maneira muito modesta, e essa simplicidade o acompanhou até o último dia de seu pontificado”, contou o cardeal.

O ponto de maior proximidade entre os dois se deu em 2007, durante a 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizada em Aparecida. “Ele permaneceu ali por 20 dias, sempre com o mesmo estilo de vida: simples, discreto, muito próximo das pessoas. E teve um papel fundamental naquele encontro, como presidente da Comissão de Redação dos documentos da conferência”, recordou Dom Raymundo. “Ali já se via sua capacidade de escuta, articulação e visão pastoral.”

Dom Raymundo também compartilhou suas memórias do Conclave de 2013, do qual participou ativamente e que resultou na eleição de Francisco como o primeiro papa latino-americano da história. No entanto, neste ano, ele não estará entre os cardeais eleitores. “Os cardeais com mais de 80 anos não participam do Conclave como eleitores. Podemos ser convidados para as Congregações Gerais, que antecedem o início do processo, mas não votamos. É o momento de contribuir com reflexões e escuta, não com decisões.”

Ao refletir sobre o legado de Francisco, Dom Raymundo foi enfático: “Foram 12 anos de um pontificado frutífero, de aproximação com os pobres, com os marginalizados, de abertura ao diálogo e de forte presença no cenário internacional. Ele conquistou não apenas os fiéis católicos, mas pessoas de todas as crenças e convicções.”

O cardeal também destacou momentos marcantes, como a participação do Papa nas Jornadas Mundiais da Juventude e sua visita ao Santuário Nacional de Aparecida, no Brasil. “Francisco sempre teve um carinho especial pelo povo brasileiro. Sua passagem por Aparecida foi cheia de significado, especialmente para nós, que conhecíamos sua trajetória desde antes de ser Papa.”

Sobre o futuro da Igreja e a escolha do novo pontífice, Dom Raymundo comentou que o Conclave é, por natureza, imprevisível. “Não há campanha, nem favoritos declarados. Tudo é conduzido sob oração, reflexão e escuta do Espírito Santo. Nenhum papa é o espelho exato do anterior. Cada um traz sua personalidade, seus dons e responde aos desafios de seu tempo. O sucessor de Francisco certamente dará continuidade a muitos aspectos, mas também imprimirá sua marca pessoal, de acordo com as necessidades atuais da Igreja e do mundo.”

Com os olhos do mundo voltados para o Vaticano, a expectativa é grande. O Conclave está previsto para começar no próximo dia 6 de maio, reunindo 123 cardeais eleitores de todos os continentes. A Igreja vive um momento de transição, mas também de esperança. E Dom Raymundo, mesmo fora da sala do Conclave, continua acompanhando tudo com a sabedoria de quem já esteve no centro das decisões da fé católica.