Patrimônio histórico em total abandono em Barbacena

Filha do artista plástico denuncia ao MP estado crítico do Parque Museu Casa de Marcier. O local chegou a ser ponto de visitação de estudantes e turistas.

O Parque Museu Casa de Marcier em Barbacena (MG) encontra-se em total estado de abandono. A denúncia é da própria filha do artista plástico que dá nome ao museu. Ana Catarina Marcier Sampaio Valle, filha de Emeric Racz Marcier, reside em Barbacena. A família registrou em fotos o descaso com um dos patrimônios históricos mais importantes do município. “O local está coberto por mato, cercas destruídas, iluminação improvisadas em árvores, infiltrações em vários pontos da casa. Um local completamente abandonado. Nem parece um patrimônio do povo. Está tudo registrado em fotos tiradas pela minha filha, Ana Cristina. Fizemos junto ao Ministério Público a denúncia, disse Catarina.

O museu está situado em uma área cercada de muito verde, na estrada que liga o bairro Monte Mário ao distrito do Faria, zona rural. O museu abriga a casa onde viveu o artista plástico Emeric Marcier. Além dos preciosos afrescos sacros pintados nas paredes externas e internas da casa, o acervo reúne diversos estudos em papel realizados pelo artista para a execução de suas obras. O destaque está para um grande painel que retrata o Casamento de Nossa Senhora e São José. O parque é um agradável e tranquilo sítio com trilhas para caminhadas, quiosques, teatrinho de arena, gramados, flores e horta comunitária.

Emeric Marcier

Marcier viveu em Bucareste e, de 1935 até 1938, estudou na Real Academia de Belas Artes de Brera (Accademia di Belli Arti de Brera), em Milão,[1] conhecendo a pintura italiana do pré-renascentismo. Em 1939, ele fez um curso de escultura na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, em Paris,[1] onde montou seu ateliê. Formou-se na Brera defendendo tese sobre Pablo Picasso.

Em 1940, em conseqüência da Segunda Guerra Mundial, Marcier foi a Lisboa, onde se instalou na casa de Árpád Szenes e de Maria Helena Vieira da Silva.[1] Colaborou com a revista Presença, mantendo contato com escritores portugueses. No mesmo ano Marcier chegou à capital fluminense, onde foi acolhido por Jorge de Lima e por Mário de Andrade.[1] Acabou naturalizando-se brasileiro.

Colaborou com a revista O Cruzeiro, viajando, em 1942, entre diversas cidades históricas mineiras. Entre 1947 e 1950, começou a trabalhar em obras murais, baseado na arte mural italiana. Marcier executou murais com temas religiosos em Barbacena, que se tornou o seu modelo de paisagens, na Capela Cristo Rei de Mauá, no ABC Paulista e no antigo convento dos Dominicanos (hoje Escola da Serra) em Belo Horizonte, onde pintou o “Encontro em Emaús”, afresco que foi restaurado em 2009. A partir de 1971, sua morada passou a ser definitivamente o Rio de Janeiro.[1]

Judeu por nascimento, Emeric Marcier converteu-se ao catolicismo após conhecer a arte barroca de Minas. Casou-se com Julia Weber Vieira da Rosa, uma tradutora e enfermeira da Cruz Vermelha, e teve sete filhos no Brasil; entre eles, está Jorge Tobias Marcier (1948-1982), que foi pintor como o pai.

Marcier morreu em Paris, de enfarte. No dia 6 foi sepultado em Barbacena, para onde seu corpo fora trasladado. Ele deixou um livro de memórias, editado após a sua morte pela Livraria Francisco Alves Editora, o Deportado para a vida.

Fotos da atual situação do parque